terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Estórias de Alhos Vedros

Vive e deixa viver(ao Manuel Neto)
Quando o questionavam sobre seu o modo de vida, Manel Neto, respondia imperativamente: "quem vai vai, quem está está". Sentado à porta da taverna, mesmo no centro da Vila, por onde passavam conhecidos e desconhecidos, Manuel Neto trazia consigo um curriculum invejável: contava-se que nas inúmeras incursões ao balcão da tasca, era capaz de beber um garrafão de vinho, acompanhado de uma e apenas uma azeitona. Se é verdade ou não, nem sabemos (nem interessa para o caso)... mas à porta da tasca, lugar sacralizado pela sua presença diária, o taberneiro colocou uma cadeira onde o religioso se sentava e de onde poderia ver o mundo, claro está o seu mundo, mergulhado no licor que lhe dava cor à vida. De lá, perante o mundo suspirava aforismos sábios sobre o que lhe parecia ser a vida. A mais profunda e sábia foi aquela, cuja mensagem afastava todos aqueles que lhe queriam impor uma forma de vida, com a qual não se identificava: "amigo não empata amigo; inimigo muito menos"; mensagem essa, muitas vezes expressa no aforismo: "quem vai vai, quem está está".E para quem parecia nada saber de ética ou de respeito pela vida dos outros, o Manel, analfabeto de formação, dava lições de alta cultura: quem passa deve seguir o seu caminho e deixar estar quem está, na sua vida, como acha que deve estar.Figura bem popular, amigo de toda a gente, pacifista por integridade, o que não quer dizer que estivesse isento de algumas súbitas fúrias, o Manel Neto era saudado por todos e a todos saudava.Há uma estória engraçada que se conta a seu respeito. Uma vez que foi ao (saudoso) Cinema de Alhos Vedros com o seu filho "Lhites", ao ver aparecer o Leão da Rank Filmes que lhe serve de genérico, vira-se para ele e diz: "Vamos embora "Lhites" que o pai já viu este filme." Uma outra das suas imagens de marca era o seu trinado dentário. Enquanto esbaforia os mais enternecidos vapores etílicos, rangia os dentes de tal forma que pareciam afinados pares de castanholas, findo do qual elegantemente rematava: "Aí, Cão da Lama".Com Carisma e com princípios, que faltam a muita boa gente hoje em dia. Saber viver e deixar viver é um princípio ético muito importante. Nele se resume muito do que se diz (ou se pode dizer) sobre a liberdade individual. Liberdade de cada um poder escolher a sua própria vida, sem imposições exteriores, desde que essa Liberdade individual não interfira com a Liberdade dos outros. Assim se resumia o Aforismo Kantiano, de que "a minha liberdade termina quando começa a do outro", da mesma forma que Manel Neto reafirmava o postulado: "Quem vai vai, quem está está"
Luís Mourinha
Luís Santos

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

IV Bienal de Pintura de Pequeno Formato. Prémio Joaquim Afonso Madeira

Vai realizar-se em Alhos Vedros, de 13 a 21 de Junho de 2009 a IV Bienal de Pintura de Pequeno Formato. Prémio Joaquim Afonso Madeira, organizada pela Câmara Municipal da Moita, Junta de Freguesia de Alhos Vedros e Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros (CACAV).
Todos os trabalhos deverão ser enviados ou entregues na Junta de Freguesia de Alhos Vedros, na Rua Cândido dos Reis, 2860 Alhos Vedros, no período de 30 de Março a 30 de Abril de 2009.
Será realizada uma Exposição dos trabalhos seleccionados pelo júri no Moinho de Maré de Alhos Vedros, que irá decorrer no período de 13 a 21 de Junho de 2009.
Para a obtenção do Regulamento e Ficha de Inscrição, devem os interessados contactar com as entidades acima referidas.
Para mais esclarecimentos agradecemos o contacto para: 932214015.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Poema do dia


As fotografias

Era quase no inverno aquele dia
Tempo de grandes passeios
Confusamente agora recordados -
A estrada atravessava a serra pelo meio
Em rugosos muros de pedra e musgo a mão deslizava -
Tempo de retratos tirados
De olhos franzidos sob um sol de frente
Retratos que guardam para sempre
O perfume de pinhal das tardes
E o perfume de lenha e mosto das aldeias

in Dual de Sofia de Mello Breyner Andresen
Círculo de Leitores, Moraes Editores, Lisboa 1972

domingo, 18 de janeiro de 2009

Etimologia de Alhos Vedros

«Vedros» deriva da palavra latina «Vetus» que evoluindo através dos séculos, deu origem ao nosso vocábulo «Velho» e «Vedros». Assim, «Velhos» ou «Vedros», o significado é idêntico. Até aqui não há dúvidas!As dificuldades surgem com a palavra «Alhos». Querem os entendidos, que tenham vindo de «Alius», também palavra latina, que significa «outro» (de muitos) em Português. Porquê então «Alius Vetus», nome dao a esta povoação?Os historiadores têm discutido o assunto, sem contudo terem chegado a uma conclusão, por todos aceite. Seja como fôr, Alhos Vedros «sabe» a latim. Foi sem dúvida povoação a que os romanos deram o nome e de certo até fundada por eles, provavelmente no Séc. I a.C.. A sua actividade principal teria sido a exploração do sal, que faziam transportar para Roma ou utilizada na salga do peixe.(…)Em 711 da nossa era, surgem com todo o ímpeto os árabes vindos do norte de África; dois anos depois, tinham conquistado quase toda a Península. Esta Terra tornou-se, assim, uma possessão moura.Após alguns séculos, surge o esforço enorme da Reconquista Cristã. A bravura de Afonso Henriques, conquistador de Palmela, empurra para o Sul os árabes desas regiões, voltando Alhos Vedros novamente à dominação cristã. Começa, assim, uma nova era para a antiga povoação romana, com seus progressos e retrocessos, tão comuns na história dos homens.Que daqui em diante só conheça o progresso…”ALVES, Carlos F. Póvoa - Subsídios para a História de Alhos Vedros. Edição do autor, 1992, p.76.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Poema do dia


O POETA HEMOTRÁGICO

Estando um poeta à beira de um ribeiro,
ingeriu toda a tinta do tinteiro.
Então deu-lhe tremenda uma veneta
como se ele mesmo fosse uma caneta:

e enquanto digeria ele escrevia
- da poesia mantendo alta tensão -
tudo quanto em torrente ao coração
da sua veia poética afluía.

Se a tinta não gastar toda primeiro
e se uma indigestão o não afecta
ainda vai fazer um poema inteiro
com a pena hemotrágica o poeta.


in, Retratos à La Minuta, de José Colaço Barreiros. Lisboa 2006

“Escola Aberta Agostinho da Silva”

A “ESCOLA ABERTA” como o próprio nome deixa desde logo antever, está aberta à participação e às ideias de todos quantos se queiram juntar nesta aventura.
Não será uma escola igual às outras, onde uns aprendem o que os “mestres” têm para lhes ensinar, seguindo um caminho previamente traçado e que vai dar onde “outros” pensam que será melhor para nós.
Não será uma escola com paredes opacas que a isolam do mundo e impedem a entrada à luz dos sorrisos, do espanto e ao murmurar das águas da inquietação.
Será uma escola de perguntas, de abraços fraternos e de utopias – e das outras coisas todas, que fazem o caldeirão onde fervilha a poesia e o sentido da vida.
A “Escola Aberta” será o que nós sonharmos e funcionará como nós quisermos!
Nesta Escola poderão acontecer Ciclos de Estudos (de curta duração), Cursos Livres (de duração mais prolongada), Seminários e Workshops ou uma Escola de Adultos.

Princípios Estruturais

1.Liberdade
2.Participação Activa
3.Desenvolvimento pessoal e Social
4.Universalidade
5.Identidade
Vem. Podes trazer um amigo também!
Traz uma pergunta ou um sonho contigo,
Um navio ou um porto de abrigo,
Com sextante ou à deriva. Mas vem.
Pela CACAV
A Coordenadora da Casa Amarela/Escola Aberta Agostinho da Silva

Era uma vez...

Uma tarde, algures em 1986, no Café dos Valérios bebeu-se o Moscatel da "iniciação". Teria nascido a CACAV, hoje reconhecida por todos como um espaço (na altura, sem espaço definido), onde fervilhavam ideias e promessas de intervenção cultural. Não eram muitos a erguer o copo de Moscatel. Nem me lembro com exactidão quantos eramos naquela "reunião" promissora, que trazia esperanças e renovadas motivações. Mas de certo lá estava o Fosch, estudante de Antropologia, com uma visão "estrangeirada" das coisas e do mundo (por estudar em Lisboa, em contacto com o novo mundo), o Armindo na sua postura peculiar e crítica (com uma visão política e filosófica das coisas, muito para além do Senso Comum) e o Raminhos já professor, cursado em Sociologia, com ideias inovadoras mais consistentes sobre o que poderia ser a Vila de Alhos Vedros, com mais dinâmica do ponto de vista cultural.Estavam mais pessoas, que a minha memória não alcança, com todo o rigor. Há uma imagem difusa, que me faz recordar do Carlos (com o seu penteado alinhado pelo Setúbal), do Luís Carlos Santos (cabelo comprido e desafiador, também antropologo iniciante), o Henrique Contente (jovem empresário na cidade grande - Barreiro) e de outros que também se enebriaram com a bebida iniciática e que mais tarde deram vida a experiências fantásticas que ficaram inscritas na História de Alhos Vedros. E outros e muitos outros que continuaram a "obra", depois de algumas saídas e auto-exclusões, entre eles o Carlos, o Croca, o Vitor Santos o Carlos Vardasca e tantos outros.A CACAV teria as suas sementes numa crescente necessidade de contra-posição a uma certo "marasmo" e uma certa vivência que apenas oferecia a "esquina" o alcool e a droga, fenomeno emergente nos anos oitenta.Depois vieram as actividades e que foram tantas, que já nem consigo recordar. A Rádio Opção, que foi adoptada de um Projecto do Luís Paulo Rosa (o Estúdio 54), as famosas Noites de Lua Cheia, os contactos com o grande Agostinho da Silva, os Atliers de Arte, as Escola de Música, as Viagens temáticas sobre o Ambiente, a Escola Aberta, as Homenagens a José Afonso, enfim, um enorme curriculum, que conferem à CACAV o estatuto de uma "jovem madura", com muito para contar.Muitos foram os episódios e as experiências partilhadas. Muita gente por lá passou e se juntou a este projecto. Lembro de uma estória de Siglas e de Acrónimos, quando se pretendia baptizar a Cooperativa.A propósito de Siglas e afins e na altura quando a CACAV se estava a iniciar cheguei a propor a sigla/ acrónimo CACA. Achava eu, no alto iluminado dos meus 20 e poucos anos que era uma sigla com mais impacto. Valeram-me a experiência e o bom senso de pessoas mais maduras como o Raminhos (o Grande Raminhos), que me conseguiram demover.Fiz esta proposta porque achava que nos iriam ouvir, isto num tal Alhos Vedros (dos anos 80) em que nada acontecia. Era o que dizia o Luís Fosh, quando pronunciava uma das suas palavras preferidas: "temos que sair do Marasmo"."Marasmo" para dizer que nada acontecia e que o mundo em geral e o velho burgo em particular estava à beira da alienação.Hoje reconheço que marasmo e alienação é o que vivemos hoje se deixarmos de olhar com atenção o que está à nossa volta. Quanto à CACAV faço-lhe a devida continência pelo trabalho desenvolvido até hoje e reconheço que, de modo nenhum, lhe assentaria o acrónimo de CACA, mesmo que isso pudesse ter o impacto que até poderia ter (quem sabe!?).Um abraço à própria (CACAV) e o reconhecimento pelos serviços culturais que prestou e presta ao Concelho da Moita.Já agora: quantas Estórias teriamos que contar sobre esta nobre “Instituição” a que toda a gente reconhece com CACAV? Falta escrever sobre a CACAV! Quem será capaz de lançar a primeira letra? Neste caso a segunda letra, com conteúdos capazes de fazer jus ao mérito desta "Casa" fantástica e a todos os que ao longo deste tempo nunca (repito: nunca) abandonaram o "barco" e que, mesmo à bolina, navegaram bem longe, para além dos preconceitos e da inactividade castradora. E agora neste momento apetecia-me falar do Raminhos e de tantos (poucos!) outros que sempre estiveram à frente deste grande fenomeno cultural, a que por mérito e reconhecimento público, se decidiu chamar: Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros.P.S. Que me desculpem, se a minha memória me fez esquecer alguém ou alguma actividade das muitas, que foram desenvolvidas pela CACAV. Penso que outras pessoas, com mais presença e conhecimento do processo de crescimento desta enorme "Instituição", se deveriam sentar ao Computador e deixar o registo do que foram estes vinte e três anos de notável existência.
Luís Mourinha

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Assembleia Geral da CACAV


COOPERATIVA DE ANIMAÇÃO CULTURAL DE ALHOS VEDROS


ASSEMBLEIA GERAL
Conforme os Estatutos, convocam-se todos os sócios da CACAV para uma Assembleia Geral a realizar no próximo dia 16 de Janeiro (Sexta Feira), pelas 21,30 horas, na sede situada na Estrada Nacional, nº 11 (frente ao Correio) Alhos Vedros, com a seguinte ordem de trabalhos:

1. Eleição dos Corpos Sociais para o ano de 2009
2. Outros assuntos:
a) Plano de Actividades da CACAV para 2009
b) Projecto Casa Amarela
Alhos Vedros, 10 de janeiro de 2009
A Presidente da Assembleia Geral
Maria José Estiveira

domingo, 11 de janeiro de 2009

Era uma vez

Há quinze anos atrás tinha eu apenas 36 anos e vivia em Alhos Vedros desde 1973, regressado da guerra colonial (precisamente do Planalto dos Macondes em Moçambique, junto à fronteira com a Tanzânia banhada pelo rio Rovuma) e, naquela vila que ainda respirava o odor salgado do que restava das últimas salinas, do pó da cortiça e dos panos e tecidos sintéticos recortados nas fábricas de confecções, vivi os vários aniversários onde partilhei os avanços e os recuos desta nossa história contemporânea e o agonizar daquelas indústrias que foram marcando a minha personalidade até ao início do século XXI.
Estes anos que foram repletos (alguns) de alguma angústia pelos companheiros tombados na guerra e que ainda não está totalmente sarada e outros inundados de felicidade como o do nascimento da Mónica Alexandra; pelo quebrar das amarras no madrugar do 25 de Abril de 1974; pelo primeiro 1º de Maio em liberdade onde vi transbordar multidões e onde pude exteriorizar a minha revolta perante tanta injustiça assim como outras datas em que por vezes fui tentando adiar pequenas inquietações que foram colmatadas com a vivência diária.
Por circunstâncias que me foram alheias vim morar para Alhos Vedros mas não esquecendo os amigos que deixei em Santarém visitando-os esporadicamente (era lá que vivia antes de ir para a guerra colonial), não estranhando a mudança porque o ambiente que encontrei era idêntico em termos de camaradagem e até na defesa dos valores defendidos pelos meus amigos Escalabitanos.
Estas novas amizades ou apenas conhecimentos que tive o privilégio de partilhar resultaram também de trajectos, utopias e ideais prenhe de solidariedades nem sempre concretizadas, mas que algumas delas se foram cimentando até aos dias de hoje noutras vertentes, onde foi possível construir novas cumplicidades apesar das diferenças de opinião, ao ponto de sentir que alguns dos meus 51 anos vividos terem sido forjados com a cumplicidade destes novos companheiros e das “novas estradas” que caminhámos ao longo destes 15 anos, cujo trajecto começou a ser traçado pelo que se chamou inicialmente Grupo de Acção Cultural (GAC)que com eles partilhei desde o início com algumas interrupções de percurso.
Nesta estrada com percursos deveras atribulados devido a incompreensões dos poderes instituídos, tem este grupo que mais tarde se denominou Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros (CACAV) deambulado de sítio em sítio, de esperanças em desesperanças entre utopias e inquietações sempre adiadas e de revoltas contidas por tanta incompreensão intencional daqueles poderes, produzindo cultura com as ferramentas rudimentares de que dispunha, já que as outras lhes têm sido negadas a troco de alguns subsídios como se o poder estivesse a lidar com pequenos saltimbancos ou simples fazedores de cultura ambulante, quais “bobos da corte que fazem rir a plebe mas que irritam a nobreza instalada”, cuja corte faz constar através de um dos seus arautos da área cultural que é ela e somente a ela que compete “definir a política cultural do reino” quando é confrontado com alguma indignação pela desigualdade no tratamento e na atribuição dos “despojos do tesouro do reino”, ostracizando os que não lhe “beijam a mão” e se recusam a participar no “festim quando as trombetas tocam a reunir”.
Após 15 anos e da intensa prática de um certo “nomadismo cultural” não seria demais lembrar que estes “pequenos saltimbancos incompreendidos” têm obra feita digna de reconhecimento, lembrando algumas das actividades mais marcantes que de imediato me vêm à memória.
Lembro-me da primeira Artes Vedros 90 realizada em 1990 sem apoios de qualquer espécie num “casebre” que adaptámos como cenário e que cumpriu os nossos objectivos, sendo uma das mais concorridas por ter sido uma pedrada no charco no cinzentismo cultural do poder instituído nessa altura.
Estou a lembrar-me da primeira vez que se comemorou o 475º aniversário do Foral de Alhos Vedros em 1986, cuja iniciativa da autoria da CACAV por falta de meios económicos e de outros apoios lhe veio a ser “arrancada pelos algozes da corte” até aos dias de hoje, (apesar de o termos ainda comemorado em conjunto), onde para o “resgate” desta nossa iniciativa funcionou o poder financeiro do “aparelho do condado” que aos poucos também vai transferindo alguma da importância histórica de Alhos Vedros para outras paragens onde funciona de forma encoberta a “secular disputa territorial”, já materializada em tempos remotos no arranque do Poço Mourisco e da sua instalação nos Paços do concelho do condado, motivando a revolta do povo de Alhos Vedros e a “reconquista” daquele monumento.
Recordo com satisfação o grande concerto do José Mário Branco no Cais do Descarregador intitulado “Em Maio vamos cantar Zeca Afonso” onde os apoios oficiais chegaram tardios e só depois de terem constatado o seu êxito.
É com bastante orgulho que me lembro de imediato sem qualquer ordem cronológica do prémio promovido pela Associação Dinamis que a CACAV recebeu a nível do distrito de Setúbal que a galardoava como a organização que em 1987 melhor difundia a actividade cultural no distrito, estranhando no entanto que este reconhecimento viesse de tão longe, enquanto que aqui tão perto as entidades culturais do burgo se entretiam a ignorar o nosso trabalho que era admirado por “estranhos”.
Entre outras coisas também de grande importância, estou a lembrar-me da vinda a Alhos Vedros dos maestros Fernando Lopes Graça e o seu Coro da Academia de Amadores de Música e Vitorino D’ Almeida, que dedilhou alguns acordes maravilhosos de piano na igreja Matriz de Alhos Vedros e que foi beber um moscatel à então Rádio Opção que também “parimos”, na grande onda do movimento de legalização das Rádios Locais.
Ainda sinto a noite memorável na Escola Secundária de Alhos Vedros dedicada ao povo de Timor Leste, onde a CACAV e o povo daquela secular vila lhes prestou homenagem e solidariedade apoiando a sua justa luta pela independência, enquanto outros a silenciavam, só se pronunciando após o massacre de Santa Cruz porque se tornou mediático.
Recordo a conferência de Agostinho da Silva pelo nosso 5º aniversário que fascinou todos os presentes no Centro de Convívio dos Reformados, onde ouvi pela primeira vez que “…o capitalismo também se manifesta nas escolas e se materializa quando um aluno rico e mais bem preparado impede que o seu parceiro de carteira, de fracos recursos, menos preparado para o exame e oriundo dos meios rurais copie, porque aquele já está a pensar no seu futuro como gestor do sistema…”
Poderia recordar outras tantas actividades pela defesa e preservação do Património Histórico e Natural, assim como outras mais recentes como as sempre aliciantes “Noites de lua cheia” e outras integradas no âmbito da “Oficina d’Artes”, mas que deixaria para quem sobre elas tem mais legitimidade para as comentar.
Passados que são estes 15 anos que a CACAV se “fez à estrada”, questiono-me e penso se com toda esta intensa actividade e outras tantas que o espaço não me deixa descrever, se não seria mais que legítimo e sem termos que dever favores a quem quer que seja, que esta organização cultural fosse dotada de uma casa para a sua sede social e aí todos os seus colaboradores desenvolverem a sua actividade na promoção dos seus eventos, que se multiplicariam, tendo em conta a “obra já feita sem aquele privilégio”.
Uma casa que não seria só nossa mas de toda a população de Alhos Vedros, abandonando de vez as várias “tendas por onde nos fizeram e ainda nos fazem vegetar” pensando que nos fazem desistir; sem que estejamos sujeitos a cortes de luz sem aviso prévio e sem respeito pela nossa actividade e pelas pessoas que ali acorrem, a quem lhes são ministrados alguns conhecimentos em várias vertentes culturais; sem que estejamos sujeitos a que nos despejem dos pequenos cubículos onde nos acotovelamos e amontoem os nossos parcos “tarecos” sem que nos dêem qualquer satisfação como se fossemos uma espécie de “sem abrigo da cultura”.
Por vezes questiono-me a mim próprio se não seria “mais vantajoso” que a CACAV tivesse enveredado por outra “actividade cultural”, onde se evidencia a rotina do culto do “agora bebo eu e pagas tu e vice versa até que a rodada calhe a todos”, ou pelo “tilintar das moedas que mudam de dono numa velocidade vertiginosa que promovem a angústia de quem perde ao jogo” sem que se produza qualquer outra actividade que se possa chamar cultural e de relevo, para que hoje pudéssemos dizer que tínhamos uma sede social mas “…onde ninguém reivindicava nada nem o poder se sentia incomodado, pois ali as prioridades seriam outras…” deixando que outras CACAV’S se encarregassem de “entreter a plebe sem servir os interesses da corte” a troco de uma mão cheia de nada.
Mas não!… o caminho que trilhámos foi genuíno e resultou da cumplicidade, empenhamento e da disponibilidade de cada um, onde retirámos (cada qual à sua maneira) uma parte de nós sem pedirmos nada em troca, denunciando o que tínhamos para denunciar e apoiando o que havia para apoiar, com o reconhecimento de que foi o caminho mais coerente e acertado, mantendo a nossa integridade intacta e o nosso pensamento independente.
Neste 15º aniversário, o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido pela CACAV já ninguém o pode apagar com uma simples borracha para que conste (“se os escribas da corte não se esquecerem de o incluir nos seus pergaminhos”) na história de alguma cultura desinteressada e sem elitismo que se produziu em Alhos Vedros.
Assim continuaremos a manter a nossa coerência, até que aquele reconhecimento que já é efectivo ultrapasse o mero gesto “mercantilista” do subsídio e dê lugar a um outro sonho a que legitimamente a ele temos direito por mérito próprio, para que um dia a população de Alhos Vedros interessada por estas “coisas da cultura” (onde já incluo a Mafalda Sofia que já tem oito anos) ao olhar para a nossa sede possa dizer com orgulho e satisfação:
- Finalmente!… eles mereciam, há muito… - e continuarem a contar outras tantas histórias associadas a realizações promovidas pela CACAV (de que me orgulho de ter queimado algumas pestanas a desenhar o seu símbolo), começando sempre pelo inquestionável e eterno, “Era uma vez…”

Carlos Vardasca
25 de Abril de 2001
Nota: Artigo escrito no 15º Aniversário da Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros (CACAV) editado em Suplemento Especial no jornal "O RIO". 25 de Abril de 2001

sábado, 10 de janeiro de 2009

Plano de Actividades da CACAV para 2009

Encontra-se já em elaboração o Plano de Actividades para o ano de 2009, podendo todos os sócios e amigo da CACAV participar na sua concretização enviando sugestões. As reuniões da CACAV realizam-se todas as quintas-feiras às 21,30 horas, nas suas instalações provisórias em frente ao edifício dos Correios de Alhos Vedros.
Com o teu contributo, decerto que o Plano de Actividades para o ano de 2009 ficará mais enriquecido, sendo uma importante ferramenta para que a nossa Associação continue a desenvolver a sua actividade cultural em prol das populações do nosso Concelho, como o vem fazendo ao longo da sua existência.
A Direcção da Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros (CACAV)

Pedaços da nossa história


A Direcção da
Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros (CACAV)