sábado, 17 de janeiro de 2009

Era uma vez...

Uma tarde, algures em 1986, no Café dos Valérios bebeu-se o Moscatel da "iniciação". Teria nascido a CACAV, hoje reconhecida por todos como um espaço (na altura, sem espaço definido), onde fervilhavam ideias e promessas de intervenção cultural. Não eram muitos a erguer o copo de Moscatel. Nem me lembro com exactidão quantos eramos naquela "reunião" promissora, que trazia esperanças e renovadas motivações. Mas de certo lá estava o Fosch, estudante de Antropologia, com uma visão "estrangeirada" das coisas e do mundo (por estudar em Lisboa, em contacto com o novo mundo), o Armindo na sua postura peculiar e crítica (com uma visão política e filosófica das coisas, muito para além do Senso Comum) e o Raminhos já professor, cursado em Sociologia, com ideias inovadoras mais consistentes sobre o que poderia ser a Vila de Alhos Vedros, com mais dinâmica do ponto de vista cultural.Estavam mais pessoas, que a minha memória não alcança, com todo o rigor. Há uma imagem difusa, que me faz recordar do Carlos (com o seu penteado alinhado pelo Setúbal), do Luís Carlos Santos (cabelo comprido e desafiador, também antropologo iniciante), o Henrique Contente (jovem empresário na cidade grande - Barreiro) e de outros que também se enebriaram com a bebida iniciática e que mais tarde deram vida a experiências fantásticas que ficaram inscritas na História de Alhos Vedros. E outros e muitos outros que continuaram a "obra", depois de algumas saídas e auto-exclusões, entre eles o Carlos, o Croca, o Vitor Santos o Carlos Vardasca e tantos outros.A CACAV teria as suas sementes numa crescente necessidade de contra-posição a uma certo "marasmo" e uma certa vivência que apenas oferecia a "esquina" o alcool e a droga, fenomeno emergente nos anos oitenta.Depois vieram as actividades e que foram tantas, que já nem consigo recordar. A Rádio Opção, que foi adoptada de um Projecto do Luís Paulo Rosa (o Estúdio 54), as famosas Noites de Lua Cheia, os contactos com o grande Agostinho da Silva, os Atliers de Arte, as Escola de Música, as Viagens temáticas sobre o Ambiente, a Escola Aberta, as Homenagens a José Afonso, enfim, um enorme curriculum, que conferem à CACAV o estatuto de uma "jovem madura", com muito para contar.Muitos foram os episódios e as experiências partilhadas. Muita gente por lá passou e se juntou a este projecto. Lembro de uma estória de Siglas e de Acrónimos, quando se pretendia baptizar a Cooperativa.A propósito de Siglas e afins e na altura quando a CACAV se estava a iniciar cheguei a propor a sigla/ acrónimo CACA. Achava eu, no alto iluminado dos meus 20 e poucos anos que era uma sigla com mais impacto. Valeram-me a experiência e o bom senso de pessoas mais maduras como o Raminhos (o Grande Raminhos), que me conseguiram demover.Fiz esta proposta porque achava que nos iriam ouvir, isto num tal Alhos Vedros (dos anos 80) em que nada acontecia. Era o que dizia o Luís Fosh, quando pronunciava uma das suas palavras preferidas: "temos que sair do Marasmo"."Marasmo" para dizer que nada acontecia e que o mundo em geral e o velho burgo em particular estava à beira da alienação.Hoje reconheço que marasmo e alienação é o que vivemos hoje se deixarmos de olhar com atenção o que está à nossa volta. Quanto à CACAV faço-lhe a devida continência pelo trabalho desenvolvido até hoje e reconheço que, de modo nenhum, lhe assentaria o acrónimo de CACA, mesmo que isso pudesse ter o impacto que até poderia ter (quem sabe!?).Um abraço à própria (CACAV) e o reconhecimento pelos serviços culturais que prestou e presta ao Concelho da Moita.Já agora: quantas Estórias teriamos que contar sobre esta nobre “Instituição” a que toda a gente reconhece com CACAV? Falta escrever sobre a CACAV! Quem será capaz de lançar a primeira letra? Neste caso a segunda letra, com conteúdos capazes de fazer jus ao mérito desta "Casa" fantástica e a todos os que ao longo deste tempo nunca (repito: nunca) abandonaram o "barco" e que, mesmo à bolina, navegaram bem longe, para além dos preconceitos e da inactividade castradora. E agora neste momento apetecia-me falar do Raminhos e de tantos (poucos!) outros que sempre estiveram à frente deste grande fenomeno cultural, a que por mérito e reconhecimento público, se decidiu chamar: Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros.P.S. Que me desculpem, se a minha memória me fez esquecer alguém ou alguma actividade das muitas, que foram desenvolvidas pela CACAV. Penso que outras pessoas, com mais presença e conhecimento do processo de crescimento desta enorme "Instituição", se deveriam sentar ao Computador e deixar o registo do que foram estes vinte e três anos de notável existência.
Luís Mourinha

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