segunda-feira, 13 de maio de 2013

Poema que nos foi enviado por Ana Maria Santos

Pensamento-filme (Alhos Vedros)

Na máquina de projecção
Vejo meu pensamento-filme
Espreitando-me...
Vou dando à manivela
E imagens desfilam no meu cérebro
E surge o jardim,
Rectangular
Com árvores e bancos
(alguns velhotes sentados, cansados da vida, sem família,
também eles entre parênteses como estes meus versos).
E, logo ao lado, o largo!
O largo da feira,
De trocas de vidas,
de mercadorias,
cheio de vozes,
de cores.
(Hoje é um espaço de leituras outras,
mas sempre um espaço vivo de aprendizagem)
O largo!
Também havia a mercearia da Ti Lucília
E a taberna do Ti Chico-Vintém
Com um corvo, o Vicente,
A puxar-nos pelos bibes...
Ao fundo
A igreja
(cemitério ao lado: vida e morte juntas,
talvez por serem as duas faces de uma só realidade)
Espaço de História,
De pequenas histórias e lendas
De mouros e cristãos,
De mistério para a criança
Que aprendia as primeiras letras
E não conseguia decifrar
Símbolos gravados na pedra.

E recolhendo ao espaço do meu quintal,
Surgem na tela o cheiro dos marmeleiros,
Do verde das patálias,
Do cerise dos brincos de princesa
E o poço a um canto,
Onde me mostravam
A lua.

Ana Maria Santos

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